"Cada um colherá aquilo que plantou. Se tu plantaste vento colherás tempestade. Mas, se tu entenderes que com luta o sofrimento pode tornar-se alegria vereis que deveis tomar consciência do que foste teu passado aprendendo com teus erros e visando o crescimento e a felicidade do futuro. Não sejais egoísta, aquilo que te fores ensinado passai aos outros e aquilo que recebeste de graça, de graça tu darás. Porque só no amor, na caridade e na fé é que tu podeis encontrar o teu caminho interior, a luz e DEUS" .
Pai Cipriano
Para podermos entender um pouco melhor esta linha de trabalho tão importante dentro da Umbanda, vamos rever um pouco da história de como os negros chegaram a terras brasileiras.
As grandes metrópoles do período colonial: Portugal, Espanha, Inglaterra, França, etc; subjugaram nações africanas, fazendo dos negros mercadorias, objetos sem direitos ou alma.
Os negros africanos foram levados a diversas colônias espalhadas principalmente nas Américas e em plantações no Sul de Portugal e em serviços de casa na Inglaterra e França.
Os traficantes coloniais utilizavam-se de diversas técnicas para poder arrematar os negros:
Chegavam de assalto e prendiam os mais jovens e mais fortes da tribo, que viviam principalmente no litoral Oeste, no Centro-oeste, Nordeste e Sul da África.
Trocavam por mercadoria: espelhos, facas, bebidas, etc. Os cativos de uma tribo que fora vencida em guerras tribais ou corrompiam os chefes da tribo financiando as guerras e fazendo dos vencidos escravos.
No Brasil os escravos negros chegavam por Recife e Salvador, nos séculos XVI e XVII, e no Rio de Janeiro, no século XVIII.
Os primeiros grupos que vieram para essas regiões foram os bantos; cabindos; sudaneses; iorubás; geges; hauçá; minas e malês.
A valorização do tráfico negreiro, fonte da riqueza colonial, custou muito caro; em quatro séculos, do XV ao XIX, a África perdeu, entre escravizados e mortos, 65 a 75 milhões de pessoas, e estas constituiam uma parte selecionada da população.
Arrancados de sua terra de origem, uma vida amarga e penosa esperava esses homens e mulheres na colônia: trabalho de sol a sol nas grandes fazendas de açúcar.
Tanto esforço, que um africano aqui chegado durava, em média, de sete a dez anos!
Em troca de seu trabalho os negros recebiam três "pês": Pau, Pano e Pão.
E reagiam a tantos tormentos suicidando-se, evitando a reprodução, assassinando feitores, capitães-do-mato e proprietários.
Em seus cultos, os escravos resistiam, simbolicamente, à dominação.
A "macumba" era, e ainda é um ritual de liberdade, protesto, reação à opressão. As rezas, batucadas, danças e cantos eram maneiras de aliviar a asfixia da escravidão.
A resistência também acontecia na fuga das fazendas e na formação dos quilombos, onde os negros tentaram reconstituir sua vida africana.
Um dos maiores quilombos foi o Quilombo dos Palmares onde reinou Ganga Zumba ao lado de seu guerreiro Zumbi (protegido de Ogum).
Os negros que se adaptavam mais facilmente à nova situação recebiam tarefas mais especializadas, reprodutores, caldeireiro, carpinteiros, tocheiros, trabalhador na casa grande (escravos domésticos) e outros, ganharam alforria pelos seus senhores ou pelas leis do Sexagenário, do Ventre livre e, enfim, pela Lei Áurea.
A Legião de espíritos chamados "Preto-Velhos" foi formada no Brasil, devido a esse torpe comércio do tráfico de escravos arrebanhados da África.
Estes negros aos poucos conseguiram envelhecer e constituir mesmo de maneira precária uma união representativa da língua, culto aos Orixás e aos antepassados e tornaram-se um elemento de referência para os mais novos, refletindo os velhos costumes da Mãe África.
Eles conseguiram preservar e até modificar, no sincretismo, sua cultura e sua religião.Idosos mesmo, poucos vieram, já que os escravagistas preferiam os jovens e fortes, tanto para resistirem ao trabalho braçal como às exemplificações com o látego.
Porém, foi esta minoria o compêndio no qual os incipientes puderam ler e aprender a ciência e sabedoria milenar de seus ancestrais, tais como o conhecimento e emprego de ervas, plantas, raízes, enfim, tudo aquilo que nos dá graciosamente a mãe natureza.
Mesmo contando com a religião, suas cerimônias, cânticos, esses moços logicamente não poderiam resistir à erosão que o grande mestre, o tempo, produz sobre o invólucro carnal, como todos os mortais.
Mas a mente não envelhece, apenas amadurece.
Não podendo mais trabalhar duro de sol a sol, constituíram-se a nata da sociedade negra subjugada.
Contudo, o peso dos anos é implacavelmente destruidor, como sempre acontece. O ato final da peça que encarnamos no vale de lágrimas que é o planeta Terra é a morte.
Mas eles voltaram.
A sua missão não estava ainda cumprida.
Precisavam evoluir gradualmente no plano espiritual.
Muitos ainda, usando seu linguajar característico, praticando os sagrados rituais do culto, utilizados desde tempos imemoriais, manifestaram-se em indivíduos previamente selecionados de acordo com a sua ascendência (linhagem), costumes, tradições e cultura.
Teriam que possuir a essência intrínseca da civilização que se aprimorou após incontáveis anos de vivência.
Os Pretos-Velhos na Umbanda
São espíritos extremamente evoluídos, que se apresentam em um corpo fluídico de velhos africanos que viveram nas senzalas.
E com essa forma humilde evitam intimidar as pessoas que os procuram a fim de resolver problemas diversos.
Com este subterfúgio, conseguem maior proximidade com o consulente e ensinam como as pessoas podem aprender com os próprios erros e como fazer para avançar na escala espiritual.
Eles representam a humildade, força de vontade, a resignação, a sabedoria, o amor e a caridade.
São um ponto de referência a todos que necessitam: curam, ensinam, educam pessoas e espíritos sem luz.
Não tem raiva ou ódio pelas humilhações, atrocidades e tortura a que foram submetidos no passado.
Não se pode dizer que em sua totalidade esses espíritos são diretamente os mesmos Pretos-Velhos da escravidão, pois, no processo cíclico da reencarnação, passaram por muitas vidas anteriores, foram: negros escravos, filósofos, médicos, ricos, pobres, iluminados e outros.
Mas para ajudar aqueles que necessitam, escolheram ou foram escolhidos para voltar a terra em forma incorporativa de Preto-Velho, assumindo essa forma com o objetivo de manter uma perfeita comunicação com aqueles que os procuram em busca de ajuda.
São os verdadeiros doutrinadores dentro da Umbanda, são mestres da sabedoria e humildade.
Através de suas várias experiências, em inúmeras vidas, entenderam que somente o amor constrói e une a todos, que a matéria nos permite existir e vivenciar fatos e sensações, mas que a mesma não existe por si só, nós é que a criamos para estas experiências, e que a realidade é o espírito.
Com seus cachimbos e sua fala pausada, tranqüilidade nos gestos, eles escutam e ajudam aqueles que necessitam independente de sua cor, idade, sexo ou religião.
São extremamente pacientes com seus filhos e como poucos, sabem incutir-lhes os conceitos de Karma e ensinar-lhes resignação, mostrando que o amor a Deus, o respeito ao próximo e a si mesmo, o amor próprio, a força de vontade e encarar o ciclo da reencarnação, podem aliviar os sofrimentos do Karma e elevar o espírito para a Luz Divina, fazendo com que as pessoas entendam seus problemas e suas soluções dentro da Lei de Causa e Efeito.
Eles aliviam o fardo espiritual de cada pessoa fazendo com que ela se fortaleça espiritualmente.
Quando a pessoa se fortalece e cresce, consegue carregar mais comodamente o peso de seus sofrimentos, ao passo que se ela se entrega ao sofrimento e ao desespero enfraquece e sucumbe por terra pelo peso que carrega.
Então cada um pode fazer com que seu sofrimento diminua ou aumente de acordo como encare seu destino e os acontecimentos de sua vida.
Por isso quando falar com um Preto-Velho, tenha humildade e saiba escutar, não queira milagres ou que ele resolva seus problemas, como em um passe de mágica, entenda que qualquer solução tem o princípio dentro de você mesmo, tenha fé, acredite em você, tenha amor a Deus e a você mesmo.
Para muitos os Pretos Velhos são conselheiros, mostrando a vida e seus caminhos, para outros são psicólogos, amigos, confidentes e mentores espirituais.
São também mandingueiros poderosos, com seu olhar perscrutador, sentado em seu banquinho fumando seu cachimbo, benzendo com seu ramo de arruda, rezando com seu terço e aspergindo sua água fluidificada, demandam contra o baixo astral e suas baforadas são para a limpeza e harmonização das vibrações de seus médiuns e consulentes.
Conhecedores profundos da Magia Divina e manipulação das ervas, combatem as forças negativas (o mal), espíritos obssessores e kiumbas e auxiliados pelos Exus desfazem trabalhos.
Débora Caparica
http://www.terreirotioantonio.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário