Se o cosmos já estivesse lá, na perfeição – e não caminhando lentamente como vai! –, não haveria necessidade de livre arbítrio. Qualquer arbítrio (de todos) seria exato e absolutamente correto, pleno. Como essa situação ideal ainda está longe na nossa escalada de evolução espiritual, precisamos amadurecer passo a passo nosso caminho.
Para exemplificar vou indicar uma mera palavrinha, simples ato de aceitação da nossa característica falível, dos erros que estamos sujeitos a cometer. Ela altera completamente a direção da energia espiritual do problema, faz com que ele dê meia-volta, transforma o negativo em positivo. Trata-se de palavrinha que deveríamos, descendo do nosso orgulho tolo, empregar mais corriqueiramente, com gosto e orgulho.
Já que estamos numa situação marcada pelo provisório, certas atitudes – gestos, posturas e mesmo palavras – ganham enorme importância, funcionam como forças potentes e vigorosas para melhorarem as relações humanas e o enfrentamento dos desajustes tão frequentes no dia a dia.
Que palavrinha é essa? Ah, a palavrinha “desculpa”. Simples assim. Ela é dotada de capacidades bastante impressionantes de cura e cicatrização espiritual. Pedir desculpas é ato de humildade: revela compreensão do engano, da falha, do lapso, do erro cometido.
São muitas as contingências em que um pedido de desculpas é, mais do que elegante, necessário. Ele indica que estamos olhando para as outras pessoas ao redor com o mesmo nível de atenção e respeito que gostaríamos para nós mesmos. Assim, o pedido de desculpas não deve jamais mobilizar vergonha. Não, pelo contrário, ele revela uma personalidade adulta, suficientemente confiante para reconhecer que errou e trabalhar para minimizar as dores e ódios que possam brotar daí.
Espíritos evoluídos, sabendo que estão adiantados, mas ainda não atingiram o absoluto, pedem desculpas sem constrangimento. Elas podem partir dos jovens ou adultos, velhos ou crianças; maridos ou esposas, filhos ou alunos; amigos ou colegas, pais ou professores. Quem está imune ao erro? Pior do que errar? Não admitir, não se desculpar.
Quem recebe o pedido deve proceder com a mesma carga de abertura. Deve aceitar que as coisas não são exatamente como queremos, que há mais desacerto do que encaixe no mundo. Com a mesma modéstia do pedido de desculpa, a pessoa que o recebeu deve expressar tolerância e ouvir uma voz mais doce do que a da razão, a voz do coração.
Marina Gold
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