Diz o
poeta Hampaté Bah, do Mali: "Quando morre um africano idoso, é como que se
queimasse uma biblioteca". Esta frase exprime bem o valor do idoso na sociedade
tradicional africana, que tem uma cultura iletrada: o idoso, com a sabedoria
adquirida nos seus longos anos de vida, torna-se o transmissor dos valores da
cultura tradicional herdada dos seus antepassados.
Esta aula de cultura tradicional sempre é ilustrada por meio de contos,
provérbios, lendas ou acontecimentos vividos nos tempos antigos. É fato notório
constatar que a tradição dos antepassados está muito presente na vida do povo,
visto que, para o africano, é o passado que dá sentido ao presente. O futuro
ainda não existe.
Assim, todas as reuniões em nível de comunidade aldeã (julgamento popular,
acolhida de uma delegação de visitantes, funerais, celebração da festa da
colheita, danças de regozijo…) são ocasiões propícias para transmitir a cultura
tradicional aos presentes. O palco para as reuniões da comunidade aldeã é
debaixo de uma árvore bem frondosa, geralmente situada no centro da aldeia.
Um encontro ou reunião que normalmente duraria meia hora (para nós que somos
homens e mulheres apegados ao relógio), para eles não termina em menos de duas
horas. Isso porque, antes de abordarem o assunto em pauta, fazem um preâmbulo de
como viveram os antepassados e até mesmo como solucionaram esse mesmo problema.
Dessa maneira, os idosos são os guardiães e os transmissores da tradição dos
antepassados, que para o povo é uma lei, e a sua observância é sinal de unidade
e de vida.
Antonio Carlos Nunes
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